segunda-feira, agosto 08, 2005

O Fugitivo - Parte 1

Lugar errado, na hora errada...

“Uma manhã fria de Outubro... Não digo que acordei para presenciar a geada sobre a rasteira e escassa grama que está onde deveria ser um jardim, porque nem sequer dormir essa noite eu consegui... Assim como as várias e várias outras. Noites passadas em claro, e antes passadas sobre a cama, pois nem me deitar há como, por causa dos pesadelos e do suor frio, fora os ataques constantes de febre. E antes fossem apenas esses os incômodos. Não consigo ver um farfalhar de árvores sem me imaginar sob a mira de alguém. Não consigo ver uma sombra sem colocar a mão sobre o coldre e esperar o pior. Não consigo ver uma jovem atravessando a rua próxima daqui sem ouvir dentro da minha cabeça o grito ‘Olhem! Ali está ele!’...
Não há mais porque ver essa manhã fria congelar o ar, e a fim de colocar meus pensamentos em outra coisa qualquer, me viro, apenas para encontrar a parede, num violento ajoelhar ao chão. Meu estômago se revira, e por mais que eu o suprima com minhas mãos, a dor não passa. Minha garganta queima, e ao mesmo tempo não deixa o ar chegar até mim. O olhar se turva, e o fervor sobe até minha fronte. Maldita doença que não me esquece!
Ouvindo o estrondo que causei, a jovem Sarah se levanta às pressas, somente com seus trajes de dormir, pouco se importando com qualquer etiqueta. Desde que tudo começou, ela nunca saiu do meu lado, nunca me deixou sob julgamento do tempo. Mesmo quando eu a expulsava, mandava-a esquecer que havia me visto. Algo em mim chama a atenção dela... Um sentimento que é recíproco, mas não posso arriscá-lo... Não agora...
Era Julho quando tudo começou. Um grande rico se mudou para a cidade, atraído pela febre do ouro, das casas noturnas que faziam sucesso. Ele já chegara causando impressões, e em menos de uma semana já tinha montado a maior casa de diversões que aquele lado da Califórnia já havia visto. Havia alguns muitos que faziam o grado desse forasteiro, pois com dinheiro compra-se tudo hoje em dia. Mas é como eu disse: alguns... Os outros eram donos de outros negócios na cidade, e que estavam perdendo os cintos para o mais novo morador. Perdendo o prestígio com o xerife, com o prefeito, com os outros ricos da cidade. Havia aqueles que não gostavam do ricaço apenas por inveja, ou por perderem seus lugares nas minas por causa das transações iniciadas por eles. E havia os poucos que não davam a mínima para o que estava acontecendo entre eles, e até onde eu sabia, eu era um deles...
O tipo de serviço que eu exercia era simples: escolta de comitivas, de viajantes, transporte de malotes de cartas e notificações de uma cidade para outra. Claro que havia seus perigos, ainda mais em um lugar onde os saques eram constantes. Mas quem disse que hoje um homem pode escolher o trabalho que vai fazer? Há comida a ser comprada, uma casa a ser cuidada, e pouco se faz com pouco dinheiro. Por mais que fosse um serviço difícil, era um serviço garantido: eu, em conjunto com outros poucos homens, éramos os únicos com disponibilidade pessoal para um serviço de tamanha periculosidade, e isso nos tornavam sempre a primeira opção.
Começo de Julho, mais exato em uma terça-feira, eu sou chamado por Teodor, o homem que negociava os serviços prestados, cuidava do nosso pagamento e dos esquemas de viagem. Ele chegou cedo em minha casa, dizendo que o tal ricaço, que atendia por Joshua, havia feito uma oferta por nossos serviços. Uma viagem para a cidade mais próxima, escoltando nada mais que o próprio contratante, e um conjunto de objetos de importância pessoal e contratos, de suma importância para seu portador. A viagem se daria em uma semana, e em três dias deveria me apresentar à Joshua, junto com meus companheiros. Serviço simples, e com metade do pagamento adiantado. Não hesitei em concordar.
A escolta seria formada por mim, mais três homens da companhia que Teodor comandava. Johnatan, Matheus e Rick, sendo o último o mais novo deles. Todos os três trabalhavam comigo a mais de dois anos na companhia, e serviços de escolta eram raros. Parece que nossa tarefa era nada mais que garantir passagem pela estrada. Vantagem? Muito dinheiro envolvido. Desvantagem? Proteger o tal de Joshua de qualquer coisa que viesse a tentar barrar a comitiva. Cowboys fora-da-lei querendo diversão, assaltantes típicos, saqueadores de estrada, coisas assim. Parecia a minha velha S&W Colt poderia não ser o bastante, apesar de que eu rezava para que eu estivesse sendo pessimista, e não vidente...
Ainda preocupado, resolvi chamar mais um para a viagem, um velho amigo meu. Antony, conhecido por alguns por “Espírito da Bala”. O nome veio por causa da sua famosa mira. Um homem de idade, de face marcada e dura, e cabelo já grisalho, já foi xerife, e quando se cansou, começou a trabalhar com as minas de ouro que se tornavam cada dia mais comum, e que era um antigo sonho meu. Arrecadou tanto que agora vive do dinheiro que surge do banco e do Saloom que gerencia. Mas nunca perdeu o gosto pela velha cavalgada, e por isso achei que fosse me acompanhar. Por causa dele já saí de vários apertos, e sempre que minha situação financeira apertava, ele me resgatava da fossa. Infelizmente ele não podia me acompanhar (ou não queria, mas não resolvi perguntar demais), pois estava numa época que seu negócio ficava impossível de ser dirigido só pelos empregados dele, e então ele ficaria. Uma pena.
Manhã de quinta feira, e teoricamente o dia de partida. A comitiva teve a adição de uma senhorita jovem e muito bela. Lembro que no dia ela usava um belo vestido azul claro abobado, e ri muito por dentro. Acho que ela achava que aquilo seria uma viagem de férias. Seu cabelo moreno estava preso em um coque, escondido em partes por um grande chapéu. Pelo que soube, era ela quem organizava os compromissos do tal ricaço, e também era parenta próxima. Talvez sobrinha. Típico de homem rico: não conseguir nem saber o que vai fazer numa manhã. Às vezes acho que dinheiro sobe rápido demais à cabeça das pessoas, e elas começam com frescuras assim.
Depois dos ajustes finais, carruagem carregada com os pertences e os dois passageiros de honra, chegara na hora de partir. No relógio de ouro de Joshua, constavam 8 horas da manhã. “Atrasados uma hora!” Ficava dizendo ele, por um bom tempo do percurso. Mais essa agora: além de fresco, tagarela. Nada que um pouco de paciência e um bom cigarro não apartassem. Hoje, doente como estou, lembro que o médico dizia: “Se tomar esses remédios sem parar com esse cigarro e as bebidas, não vai durar muito tempo!”. Tenho que me lembrar de dizer a ele um dia que se não fosse o tal cigarro, os problemas seriam bem piores de se resolver... Mas de vez em quando eu acho que ele tem razão...
Depois de três dias de viagem, muita reclamação dos dois passageiros, chegamos a uma floresta por onde a estrada passava. Já caía a noite, e o melhor a nosso ver era levantar acampamento. Joshua e Sarah não saíam de sua carruagem por nada, e talvez fosse bem melhor assim, pois muito da conversa dos homens que contrataram eram sobre eles. Durante o percurso fiquei sabendo que Joshua era outro que tinha feito muito dinheiro com ouro. Tanto que começou participar ativamente da política local. Porém era homem sem apoio prévio de qualquer pessoa influente da nossa cidade. E é estranho como dinheiro e políticas se combinam rapidamente: rapidamente, várias pessoas de menor posse ou influência começaram a formar a “banca de apoio” do senhor, e não demorou muito para que ele se tornasse uma pedra na bota dos velhos chacais que queriam o domínio da cidade só para eles. Não era de se estranhar. Com o jeito extrovertido e desmedido do Joshua, não deve ter demorado nada para que ele falasse e almejasse mais do que iriam permitir a ele.
Os turnos de vigia foram feitos. Eu seria o primeiro, depois Rick, Matheus, e por fim Johnatan, o mais velho, que precisava de mais descanso. Rick insistiu para que eu fosse o segundo ou terceiro, e quase cedi o lugar, quando notei que a tal Sarah estava sentada nas escadas de entrada da carruagem, aparentemente sem menção nenhuma de se recolher pra dormir. Eu não ia dar essa facilidade pro novato. Não mesmo.
O que seriam duas horas de vigia monótona se tornaram até prazerosas, com a companhia da elegante moça. Ela me contou bastante da vida dela, e fiquei sabendo que ela era realmente sobrinha do ricaço. A conversa, que inicialmente não prometia nada, levou quase todo o tempo da vigília, e Sarah se mostrava realmente curiosa sobre minha vida, vida solitária como disse a ela. Talvez contasse mais, se não houvesse interrupções. Talvez se fosse outro tipo de interrupção, que não uma bala atravessada na roda de madeira da carruagem.
Nesse instante, minha reação foi jogá-la de modo não-cavalheiro na cabine da carruagem. Pro inferno! Ela me perdoa depois. Sacando a arma, procurei a origem do tiro, e nesse momento, Rick já estava escondido atrás da árvore onde havia se encostado. Johnatan e Matheus também já haviam assumido posições. Sarah gritou histericamente, junto com seu tio, e mais tiros vieram. Não sei se dava graças à noite, que por um lado nos dava cobertura contra quem nos atacava, mas dava cobertura igual para eles.

- Que diabos é isso!? – Perguntou Rick, enquanto colocava o tambor de balas no revólver e procurava a origem dos tiros.
- Emboscada, novato. Não é tão difícil perceber. – Disse Johnatan, com um jeito frio, que podia aparentar calma, mas tinha um tempero de impaciência, com a situação e com Rick.
- Não comecem com isso! – Disse Matheus. – Deixem pra puxar o cabelo um do outro depois que resolvermos isso. Alguém viu quem está atirando?

Eu havia corrido para o outro lado da carruagem, e me deitei no chão. Achava que ali estaria salvo, quando mais tiros acertaram a roda que eu usava de cobertura. Inferno! Estávamos cercados. Gritei para os outros para que procurassem abrigo melhor, que estávamos cercados, mas não houve tempo para Matheus. Quando ele dizia algo parecido com “Não pode ser tão...”, uma bala o acertou de cheio na nuca. Rick, assustado e furioso, apenas marcou a direção do tiro e começou a disparar, mas logo tombou com um furo entre os olhos. Johnatan pulou para baixo da carroça, e eu o segui.

- Maldição! Que fazemos agora, Jake? Rick e Matheus já eram. Devem ser mais de cinco contra nós, e distantes de nós. Devem estar armados com alto calibre. E agora?

Sarah ainda gritava, e o tio dela só sabia gritas “O que está acontecendo!? Meu deus!”. Johnatan e eu ficamos em silêncio, e alguns passos vieram da mata. Vários passos. Talvez eles tivessem achado que estávamos rendidos, ou que tivéssemos fugido na escuridão da mata. Três homens vieram, com roupas pretas, lenços na cara e mantos nos ombros. Nada de lenços vermelhos, nem um sinal reconhecível. Achei que não fossem cowboys. Do outro lado da estrada vinham mais três, de mesma vestimenta. Um deles se apressou e abriu a carruagem, abrindo a cabine e retirando Joshua aos gritos de piedade da carruagem. Pelo outro lado, Sarah foi rendida por outro deles, enquanto o resto abusava do ricaço.
Johnatan já estava com o revólver armado e apenas esperando um descuido dos homens de preto. Eu já estava armado também, mas estava meio em choque com toda aquela situação. Não sei por que, mas tanto eu quanto John hesitamos ao ouvir os homens falando. Parecia que conheciam muito bem o alvo, o que fazia, e que estaria ali naquele momento, com aquelas pessoas. Emboscada era pouco. Aquilo era assassinato mandado! Droga! Sarah!

- Joshua Kenitt. Acho que nem todo seu dinheiro o salva agora, não é? Ele te deixa à prova de balas?
- Por favor! Piedade! Eu não fiz nada com vocês! Peguem meu dinheiro! É de vocês! Por favor!
- Claro que é nosso! Não somos burros como você! E é óbvio que não fez nada conosco, mas fez com outras pessoas. O novo prefeito, os agiotas da cidade... Você anda tirando o prestígio deles, sabiam? Minha sorte é que sua cabeça vai valer alto. Eles te mandam lembranças, Kenitt.

O barulho alto do disparo ecoa, acompanhando o grito de terror de Sarah, e o som surdo do corpo de Joshua caindo no solo mal pode ser percebido. Nesse momento foi a segunda hesitação, minha e de meu parceiro. Ambos olhamos um para outro, surpresos com o que ouvimos. Logo, as atenções se voltam para Sarah, mas dessa vez, eu não podia hesitar...

- Desculpa, madame. Nada pessoal. Você devia ter dado juízo para esse seu...

A voz dele é interrompida por outro disparo. John já estava a alguns pés da carruagem, e havia abatido o primeiro deles. Aproveitando da distração, saí em disparada, quase tropeçando sobre a própria Sarah. Uma troca de tiros infernais se iniciou. Um tiro de sorte, e mais um ia pro chão. John estava correndo para a mesma árvore na qual me escondi dos tiros, mas logo foi alvejado, e caiu sem vida no chão. Agora eram quatro homens muito bem armados contra um homem e uma moça histérica. Que eu podia fazer? Sarah não podia morrer, pois eu não queria que isso acontecesse. Eu não ia deixar, não mesmo. Mas as chances estavam contra mim. E agora?
Eu já estava rearmando meu revólver, quando galopes foram finalmente percebidos por todos. Dois tiros acertaram o mesmo homem, e um deles exatamente no coração. Por causa do tiroteio, ninguém havia percebido que tinha gente se aproximando. Um dos cavalos pula das sombras entre os “assaltantes”, e mais um deles cai, atropelado. Mais tiros e uma questão de tempo para que os outros dois fossem aniquilados. Não tinha dúvida de quem tinha sido autor do primeiro tiro: Antony!

- Jake! Você está bem? A moça parece que sim... Mas chegamos tarde! Deus do céu... Realmente era verdade...
- Do que está falando, Antony? Você sabia disso!?
- Fiquei sabendo, algum tempo depois que você partiu. Um dos homens do prefeito andou dando com a língua nos dentes. O palavreado difícil dele escondeu as verdadeiras intenções de muita gente, mas não escondeu de mim. Às vezes é bom ter um saloom. Nunca se sabe que tipo de surpresa você consegue. Daí foi uma questão de pressionar os capangas certos e acabei descobrindo dessa emboscada. – E nesse momento chegava o segundo cavaleiro, um dos homens de Antony. Lembro de tê-lo visto no Saloom uma vez. Ele não demorou muito, apenas desmontou de seu cavalo e começou a desmascarar os que estavam lá. Realmente, dois deles me eram familiares. Um era capanga do prefeito, e outro, de um dos maiores agiotas da cidade. É, eles estavam realmente magoados com Kenitt.
- Você precisa sair daqui, Jake! - continuou Antony. – Sua sorte pode não durar para sempre, e com certeza quem mandou esse ataque aqui sabe que eu estava atrás de vocês...

Nesse instante, mais alguns tiros começaram a ricochetear no solo, nas árvores, e na carruagem. Um deles acertou de cheio a perna esquerda do cavaleiro que acompanhava Antony. Apressados, nos escondemos atrás da carruagem. Dessa vez os tiros vinham da estrada, e não das matas. Realmente alguém sabia das intenções de Antony, e estavam aqui para garantir serviço. Que mas ia vir pra piorar?

- Jake, você precisa fugir. Pegue um dos cavalos e corra! Não dá pra voltar pra cidade pra provar pras autoridades a situação agora. Eles já mandaram capangas agora, e nenhum deles vai deixar a gente sair vivo daqui.
- Mas Antony, se fugirmos agora...
- Se você não fugir agora, não vai ter chance de ajeitar as coisas! Eles já tiveram seu alvo, e se você e a moça sumirem, eles não terão que se preocupar com testemunhas. Eles mandam e desmandam naquela cidade, Jake! Não há muita chance de sobrevivência!
- E você? Vai ficar aqui e dar uma de herói?

Antony riu sonoramente, e disse, enquanto carregava o revólver:

- Posso ser o “Espírito de Bala”, mas meu revólver ainda é limitado. Não faço milagres. Ainda... – Ele se levantou, chamando os dois cavalos que haviam corrido para as matas, e me entregou um deles. Aqueles que vinham pela estrada não avançavam mais. Deveriam estar esperando uma chance de nos pegar na fuga, enquanto atiravam. Com o mesmo olhar incisivo de sempre, Antony diz:

- Corra pela estrada. Depois de meio dia de viagem, siga pelo leste até achar um rancho. Lá mora um conhecido meu. Diga apenas que conhece. Eu vou te dar cobertura. E seja esperto! Não seja perseguido rapaz! Agora corra! Pega a moça e corra!!

Não demorou muito para que os dois salvadores se unissem a troca de tiros. Sem olhar para trás, montei rapidamente junto com Sarah e corri o mais rápido que o cavalo permitia. Sarah agora soluçava, e continuou assim por várias horas...

Que outra escolha eu tinha? Eu corri...”

terça-feira, julho 19, 2005

"A Lembrança Viva"

24.º dia do 57º Outono da Terceira Era
Entregue aos cuidados da escolta mensageira do Posto Avançado da Ordem da Floresta de Íthalo.
Para o Alto Druida da Círculo da Garra, Raphael Tygros, irmão dos Guardiões de Jamura...

Saudações, estimado e honrado Raphael. É muito prazeroso a mim, após todo esse tempo afastado da minha terra-natal Jamura, escrever a meu antigo e querido pupilo. Porém, as circunstâncias pelas quais escrevo-te não são as melhores, e isso é pesaroso ao meu coração.
Lembro-me de quando tu eras apenas um pequeno bebê, com apenas um Inverno de idade. A noite estava com uma Lua cheia límpida, que deixava a noite tão nítida quanto o dia. E embaixo de um grande carvalho estava uma senhora, com um pesado manto escuro, e as feições escondidas nas sombras do interior do tecido. Ela cambaleava forte, enquanto caminhava ao meu encontro. Infelizmente nunca a reconheci, porém sempre soube de sua natureza dentro daquela floresta. Ela clamava, nos últimos suspiros, que teu filho era um dos escolhidos da Deusa, e que sendo assim, tinha um destino valoroso a se cumprir. O vento batia feroz nas copas das árvores, e assim eu realmente ouvia seu nome ecoando entre os estalos... Raphael... Assim deveria ser chamado aquele que carregava consigo a benção da Mãe Terra, a marca da família Tygros...
Você desenvolveu o espírito, o corpo e a mente em um nível há muito tempo não alcançado por seus irmãos mais novos das Ordens Guardiãs de Jamura, e seu incessante treinamento a fim de se tornar cada vez mais uno com sua outra parte me impressiona cada vez mais. Você presenciou por tempos as mudanças que moldam o mundo em que vivemos. Presenciou o desterrar da Era Negra, o chamado às armas das Ordens, o Pacto da Coalizão, que movera todo o continente contra os males que vieram nos assolar. Por inúmeros méritos e treinos estimáveis por todos nós seguidores da Grande Mãe, você se tornou o Alto Druida da Círculo da Garra. Meu orgulho por tua pessoa é grandioso, assim como a tarefa que venho a pedir a você, meu amigo.
Tempos negros encobrem meus olhos, querido Raphael. Lembra-te de quando recebi o comunicado de Ádago, arquidruida de Íthalo. Antes da minha partida, você já sentia o mau augúrio que aquele chamado representava, e sinto-lhe dizer que não era por menos. As inúmeras escoltas de vigia das florestas que circundam o continente trazem relatos sobre inúmeras figuras, nunca antes vistas dentro daqueles arredores. Tais figuras variam desde soldados de feições demoníacas, vestindo armaduras escuras e com insígnias irreconhecíveis pelos arautos; até animais montados, animais estes sem nenhuma semelhança ao que convivemos lado a lado. Vários destes...”invasores”, construíram campos de acampamento nas proximidades dos litorais, e por várias vezes, foram vistos barcos gigantescos chegando às praias, um mesclado de metal negro e madeira podre.
Por vezes, forças-tarefa das florestas foram movidas contra os invasores, sendo a primeira delas procurando contato pacífico. Porém dessa primeira nunca tivemos resposta. Foi por essa razão por qual me chamaram ao encontro que ocorreria em Íthalo. Como deve ser de seu conhecimento, Íthalo fica ao sudeste do Continente, e foi pelas praias de Lirhan que se soube dos nossos inesperados visitantes. Porém, o tempo corre contra nós, amigo. As linhas de frente do restante das ordens mais próximas do continente fazem resistência contra os assaltantes, e por enquanto eles são mantidos nas encostas, fora do alcance das florestas. Porém, as baixas a cada dia se tornam mais numerosas, e por isso, creio que não é possível mantê-los longe apenas com o contingente armado que temos em disposição aqui.
Creio que já entenda o porque de minha comunicação, meu amigo. Infelizmente estamos em tempos de uma guerra eminente. A cada noite, mais barcos e mais daqueles que já enfrentamos aportam nas praias, e a cada dia nossas chances neste lado do combate estão diminuindo. Junto com o esta carta, enviei um pedido ao Arquidruida Cordus, para que ele possa disponibilizar algum contingente armado para fortalecer as frentes de defesa das praias. Porém nós dois sabemos que só isso não será o bastante, caro Raphael. E aqui se inicia a tarefa que quero lhe conferir. Você viajou por este continente em aventuras e treinos, e foi exatamente essa parte de andarilho que formou o tão forte druida que você se tornou. E além da experiência que você obteve, há também valorosos amigos conhecidos. Entre seus amigos, um deles ocupa até hoje o cargo de líder da Tribo do Totem do Trovão. Baltor Casco de Trovão, como ele é chamado em sua imponente tribo. Quero que viaje até a tribo dos Taurinos e informe o líder Baltor. Assim com o seu antigo pai, Baltor com certeza nos ajudará contra os inimigos vindouros.
Porém sua viagem deverá ser entendida, meu jovem. Provavelmente, os homens dos reinados de ferro e pedra do centro do continente estarão ignorando os que chegam ao nosso continente, mesmo que esses sejam invasores com sede de sangue e pilhagem. Desde o fim da Era Negra, e com a ascensão do Reinado dos Nelond, esses homens do Reinado voltaram-se apenas para as atividades que possam suprir a ganância crescente do Rei. Mas tenho fé na idéia de que alguns te ouvirão e irão pedir uma ação firme do rei Nelond. Sendo assim, sua viagem terá passagem na cidadela de Nelond.
Com a companhia de Baltor, peço-lhe que vá até as Montanhas de Keloth e encontre o líder dos Bárbaros. Baltor tem vários tratados de irmandade conjunta com o líder deles, e creio que a ajuda deles será de muito valor. Junto com os bárbaros, certamente virão os membros da Irmandade do Aço, que vive nas montanhas próximas à Keloth, e também a Tribo da Lança, dos pântanos que se localiza na base da Montanha. Com todas as grandes forças militares devidamente avisadas, talvez aquele milagre que findou a Era Negra possa ocorrer novamente.
Imagino suas dúvidas sobre meu pedido tão apressado. Mas a questão em que fomos envolvidos está cada vez mais séria, Raphael. Eu senti o ar de corrupção e sede de sangue naqueles que desciam dos barcos. Senti a força deles. Uma Nova Era Negra com certeza está a caminho. Esse mundo em que vivemos precisa de heróis, meu amigo. Precisa de homens com vontade e força o bastante para querer fazer a diferença, e a voz da Deusa me diz incessantemente que esse deve ser o seu legado. Se seu Destino não é esse, ele então se inicia aqui, com esta carta que tem em mãos agora.
O nosso continente se dividiu por brigas e desejos movidos por ganância. O legado que as Ordens deixaram com o fim da Morilenoon foi esquecido. Está na hora de fazer com que todos nessas terras que protegemos consigam se lembrar dos ancestrais que lutaram pela continuidade dessas terras, e que lutaram juntos. Talvez seja esse o significado da Era Negra: acabar com as diferenças interpostas entre os que vivem aqui por idéias como raça, reino, posse.
Peço a você, druida Raphael, para que consume a união dos habitantes dessa terra em nome de uma causa maior. Bem maior do que qualquer uma das guerras já existentes. Nossos inimigos são mais fortes, numerosos, e tem um propósito muito obscuro que os incita a guerra. Então, prefiro que sejamos nós, guardiões das matas, dêem o primeiro passo para a resistência. Custe o que custar. E por isso faço esse pedido.
Daqui a poucos momentos partirei para onde se localizam as forças de resistência escaladas pelos arquidruidas daqui. Espero ter boas notícias das escoltas que vierem me dizer sobre seus feitos, Raphael. Não quero que se preocupe em se unir a mim antes de cumprir o meu pedido. Minhas orações para a Deusa são constantes, por você, por mim, por nós. Por Jamura... Por todos que vivem nas terras que lutaremos todos nós para proteger.

Espero encontra-lo em breve, junto a Baltor e todos os outros que aderirem a nossa causa.
Até breve, Raphael Tygros. Que o olhar da Deusa e a bênção do Soberano vigiem sempre por ti, e por todos que estarão conosco...

Johan Kaine, Arquidruida do Círculo da Garra.

sexta-feira, julho 15, 2005

A ressurgência do Legado...

Para aqueles que acompanham a saga do Legacy of ages, raise your weapons! Em breve, novos posts! Fiquem ligados! ^^

quinta-feira, março 17, 2005

O "maior" grupo de aventureiros do mundo...

O que uma sessão de rpg não faz? Bom, fico contente de poder dizer que esse texto foi de autoria minha, e com a benção do meu caro amigo Magus_Schneider e do resto da galera que já o leu, posto-o aqui! Espero que gostem! E perdoem os erros de português! Heheheheh!
Passem para frente! Sua crítica é minha melhora ^^

- Era uma bela manhã... Comum, mas bela, como todo dia... E como é de meu costume (não só meu, mas de muitos de nós, dragões), em algumas manhãs eu voava sobre uma vila qualquer, e começava a destruição. Não era uma destruição por nada, mas era por diversão. Claro, sempre aparecia um ou outro se dizendo 'herói defensor', tentando me derrotar, mas era um problema pequeno, facilmente colocado de lado. Mas parecia que essa manhã estava fadada a ser... Diferemte... Para não falar caótica...
Sobrevoando uma vila próxima ao meu covil (a qual já tinha atacado uma vez a uns 50 anos, e na qual estava precisando reafirmar minha presença), comecei um ataque básico, aquele com qual estamos acostumado: sobrevôo, rugidos, baforadas de fogo, revoada, pouso, mais fogo. Bom, tudo estava ocorrendo como deveria, até quando pousei. Após algumas baforadas, assim que resolvi lançar um olhar mais baixo, notei um ser pequeno, baixo e cabeçudo, abaixo de minha face. Quando olhei bem, vi que era um Gnomo, e que mantinha uma espada (tão pequena quanto ele) apontada para o meu pescoço, e com uma expressão inabalável, dizia: 'Tu sofrerás sobre a lâmina desse Paladino, ó dragão maligno... Prepare-se!
''Que piada era aquela...?', era o que eu conseguia pensar... Antes que ele conseguisse falar algo a mais, o lancei para longe com um golpe de garra. Assim que o acertei, e pensei em voltar à destruição da vila, sinto um pequeno peso e algumas pequenas batidas em minha calda... E não acreditei no que vi quando me virei para trás. Um Halfling, com roupas verdes rasgadas, com o cabelo vermelho e bagunçado, portando o que mais parecia ser um martelo de bater carne (desses que humanos usam), estava sobre a minha calda, e batendo freneticamente nela com seu martelo, enquanto gritava: 'AHHHHHHH SUA BOLSA GIGANTE! Eu vou acabar com você, sua lagartixa!
'Não... Não podia ser... Em quê essa vila se transformou? Com um balançar de cauda, lancei o pequeno infeliz para longe, e mesmo antes de que eu pudesse me aliviar da cena horrenda que havia visto, um bastão foi jogado em mim. Quando me virei, vi um meio-orc, trajando roupas claras e leves, sem armadura e desarmado. Mesmo assim seu porte era forte, e me parecia ser um inimigo mais digno que os outros. E quando me preparei para dar cabo dele, vi que o mesmo meio-orc começou a fazer posições de luta, armando vários estilos diferentes, dizendo 'Estilo da Garça de Flandalu!'...
'Um meio-orc monge!? Não... Isso é demais...' Era o que latejava na cabeça... Isso era possível... Depois de ver esse 'monge' desferindo alguns socos e chutes em minha pessoa (todos inúteis, diga-se de passagem), caminhei até o lago próximo, para poder usar da água para acordar desse pesadelo horrendo. O meio-orc ganhou companhia do gnomo em seus assaltos frustrados, e enquanto eu lavava meu rosto no rio, o paladino começou a falar com outro de seus companheiros...
- Hey, Toren! Venha! Precisamos de sua ajuda!
- Não... Calma! Estou me escondendo para esperar o melhor momento para atacá-lo com meu Ataque Furtivo...
Quando coloquei meus olhos sobre a origem dessa última frase, vi a cena mais desnecessária... Um Minotauro, em trajes de couro negro, segurando uma pequena adaga, tremendo e tentando se esconder atrás de um tronco fino de árvore, próximo a mim, no rio...Não! Não! Não é possível! Com um simples movimento de corpo, retirei os três do meu encalço, mas logo vi aquele pequeno bárbaro halfling, com um olhar de raiva, segurando forte o seu pequeno martelo, enquanto gritava em sua frenesi:
- EU ESTOU FURIOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOSO!!!!!!!!!!!!!!!!!! EU VOU FAZER UM SAPATO DE VOCÊ!
Com o mesmo vigor que gritou, ele saltou sobre minha pata, e começou a bater com seu martelo. Que maldita vila! Jogando novamente o bárbaro ao longe, ouço uma voz rouca, dizendo 'Parado, dragão!'Finalmente, um oponente digno! Ao me virar, vejo um anão, diferente dos outros que já havia matado, pois esse usava roupas verdes e armadura de couro leve. Mas mesmo assim ainda era um inimigo! Me preparei para atacá-lo, mas logo fui impedido pelo susto ao ver que ele se sentara ao chão, e começava a fazer movimentos, invocando as forças da natureza, e inúmeros pombos se reuníam a ele... E nisso dizia 'Sofra com o poder da Grande Mãe!
''Druida!? Anão?! POMBOS!?' Que raio de pesadelo é esse? Antes que eu pensasse no que viria a seguir, um outro anão aparece, portando um bandolim, e colocando seu chapéu de pena, começa a tocar e cantar... E logo, é acompanhado por um orc e outro anão, ambos com os mesmos trajes (inclusive o chapéu de pena), portando um acordeon e algo que parecia umtriângulo, respectivamente. E todos os três começam a tocar em conjunto! E se não bastasse, ainda surge uma anã dançando freneticamente enquanto balançava as várias camadas de tecido de seu vestido...
'NÃAAAAAAAAAAAAAAAAAAAO! Chega! Chega! Pra mim já chega!' Em poucos momentos eu levantei vôo, assustado e desacreditando em qualquer coisa em que tinha visto. Voltando ao meu covil, vi que tudo parecia real demais... E assim terminou tudo...Agora vocês entendem por que estou tão estressado?

As risadas são muitas e muitas, durante todo o conto. Todos os outros dragões estavam quase a explodir de rir com essa estória tão milaborante. Um dourado, que parecia ser o mais velho entre eles, se levanta e diz:
- Ora, meu filho Khelas... Quer que acreditemos em um fato tão distorcido? Confesse... Você apenas perdeu um tesouro, ou uma luta... não é nada demais...
- Sim, é verdade... - Disse outro ao canto - Você tem que pensar que dizer uma mentira dessa numa conclave de anciões é um desres...
Nesse momento, a porta do covil onde a reunião estava sendo feita é arrombada com grande violência, e quando essa atinge o chão, uma poeira espessa é levantada. Poucos instantes depois, o diminuto bárbaro salta da poeira levantada, gritando seu histérico e fervoroso comando de guerra, e ainda portando pedaços da porta em suas mãos. Logo ele é seguido pelo meio-orc monge, que depois deu um salto milaborante sobre a poeira, cai e diz voltando aoos dragões:
- Detenham-se! Achamos os dragões! Venham companheiros!!! À Luta!!!!!!!!!!!!
Khelas... Um dragão normal, com vida normal, que queria apenas a diversão que era normal à ele... Porém o destino mostrou a ele que coisas estranhas odem acontecer, mesmo para um dragão. E não só para ele, mas para todos os seus amigos dragões.
Khelas... Mais um ser normal, vítima da Zona Além do Excesso de Imaginação, onde as coisas normais nem sempre acontecem...

quinta-feira, setembro 09, 2004

O Livro de Thel

Mote de Thel
Sabe a Águia o que há na toca?
Ou à Toupeira perguntarás de que se trata?
Cabe a Sabedoria numa vara de prata?
Ou o Amor numa taça de ouro?
I
As filhas de Serafim conduziam suas ovelhas radiantes, Todas, salvo a mais jovem:
lívida, buscou ela um ermo, Para definhar como beleza matutina em seu dia mortal:
Pelo rio de Adona, ouve-se o sussurro de sua voz, E assim seu suave lamento cai como
orvalho da manha:
"Oh vida de primavera! por que definha o lótus, Por que definham as crianças da
primavera, nascidas apenas sorrir & perecer?
Ah! Thel é como pálido arco-íris, e como nuvem que parte;
Como reflexo num vidro; como sombras na água;
Como sonhos de crianças, como um sorriso no rosto de uma criança;
Como o arrulho de um pombo; como o efêmero; como música no ar.
Ah! serena possa eu me deitar, e serena pousar minha cabeça,
E serena dormir o sono da morte, e serena ouvir a voz Dele, que caminha pelo jardim ao
aonoitecer".
O Lírio do vale, respirando na relva humilde, Respondeu à graciosa donzela, dizendo:
"Sou uma planta aquática, Sou pequenina e adoro viver em vales baixos;
Tão frágil, a borboleta dourada mal consegue pousar em minha cabeça.
Todavia, visita-me o céu, e aquele que a tudo sorri
Caminha pelo vale e toda manhã sobre mim estende a mão,
Dizendo: ‘Alegra-te, tu, relva humilde, tu, flor de lírio recém-nascida,
Tu, meiga donzela de vales silentes e riachos modestos;
Pois de luz serás vestida, e nutrida com o maná da manhã,
Até que o calor do verão te dissolva junto às fontes e às nascentes
E floresças em vales eternos’. Por que então deve Thel Lamentar?
Por que deve a ama dos vales de Har emitir um suspiro?"
Ela acalmou-se & sorriu entre lágrimas, sentando-se então em seu trono de prata.
Thel respondeu: "Oh virgenzinha do pacífico vale,
Tu, que provês aos que suplicar não podem, aos emudecidos, aos fatigados;
Teu hálito nutre o inocente cordeiro, ele fareja tuas vestes lácteas,
Pasce tuas flores enquanto para ele sorris,
Removendo-lhe da boca meiga e mansa todas as máculas contagiosas.
Teu vinho purifica o mel dourado; teu perfume,
Que esparges sobre cada laminazinha de relva que brota,
Reanima a vaca ordenhada, & amansa o corcel inflamado.
Mas Thel é como tênue nuvem abrasada ao sol nascente:
Esvaneço de meu trono perolado, e quem encontrará meu lugar?"
‘Rainha dos vales’, respondeu o Lírio, "pergunta à frágil nuvem
E ela te dirá por que reluz no céu da manhã,
E por que difunde sua luminosa beleza no ar úmido.
Baixa, Oh pequena Nuvem, & paira ante os olhos de Thel"
A Nuvem baixou e o Lírio, depois de inclinar a cabeça modesta,
Foi ocupar-se de seu numeroso rebanho no relvado viçoso.
II
"Oh pequena Nuvem", disse a virgem, "peço-te que me digas
Por que não te queixas quando, num instante, desapareces;
Então te procuramos, mas não encontramos. Ah! Thel se parece contigo:
Dissipo-me: contudo, queixo-me, e ninguém ouve minha voz."
Em seguida, a Nuvem mostrou a cabeça dourada & uma forma luminosa surgiu,
Pairando e reluzindo no ar, ante o rosto de Thel.
"Oh virgem, não sabes que nossos corcéis bebem das nascentes douradas,
Onde Luvah revigora seus cavalos? Consideras minha juventude
E temes, porque esvaneço para jamais ser vista,
Que nada fique? Oh donzela, digo-te, quando me dissipo
É para engrandecer a vida, o amor, a paz e os êxtases sagrados:
Baixando invisível, sustenho minhas alas leves sobre flores aromáticas,
E cortejo o orvalho de olhos claros para que me conduza a sua tenda cintilante:
A virgem plangente ajoelha-se, trêmula, ante o sol nascente,
Até que nos elevamos ligados por uma faixa dourada e nunca nos apartamos,
Mas caminhamos unidos, alimentando nossas flores delicadas"
"Verdade, Oh pequena Nuvem? Temo não ser como és,
Pois caminho pelos vales de Har, e sinto o aroma das flores mais doces,
Mas não alimento as florzinhas; ouço o gorjeio dos pássaros,
Mas não alimento os pássaros que gorjeiam; eles voam em busca de seu alimento:
Mas Thel já não se deleita com isso, porque definho;
E todos hão de dizer: ‘Para nada viveu essa mulher fulgurante,
Ou viveu apenas para servir, na morte, de alimento aos vermes?"
A Nuvem recostou-se em seu trono aéreo e assim respondeu:
"Se serves, então, de alimento aos vermes, Oh virgem dos céus,
Quão útil, quão afortunada és! Tudo o que vive
Não vive sozinho nem para si mesmo. Não temas, pois pedirei
Ao frágil verme que deixe o leito inferior, para que ouças a voz dele.
Vem, verme do vale silente, à presença de tua tristonha rainha".
O indefeso verme apareceu, sentou-se na folha do Lírio,
E a luminosa Nuvem partiu, para juntar-se ao companheiro no vale.
III
Atônita, Thel viu então o verme em seu leito orvalhado.
"És um Verme? Imagem da fragilidade, não és mais que um verme?
Vejo-te como uma criança envolta na folha do Lírio.
Ah! não chores, pequena voz, podes não falar, mas chorar podes.
É isso um Verme? Vejo-te indefeso & nu, chorando,
E ninguém para acudir, ninguém para confortá-lo com sorriso de mãe."
Ouvindo a voz do Verme, a Argila ergueu a cabeça compassiva:
Inclinou-se sobre a criança plangente, e sua vida exalou
Branda ternura: em seguida, em Thel fixou os olhos humildes.
"Oh beleza dos vales de Har! não vivemos paranós mesmos.
Julgas-me a mais vil das criaturas, e de fato o sou.
Meu peito em si é frio, e em si é negro;
Mas aquele que ama o humilde deita sobre minha cabeça seu óleo,
E me beija, e em torno de meu peito ata seus laços nupciais,
E diz: ‘A ti, mãe de meus filhos, amei,
E a ti ofereci uma coroa que ninguém há de usurpar’.
Mas como isso sucede, doce donzela, não sei, e saber não posso.
Pondero, e ponderar não posso; todavia, vivo e amo.
A filha da beleza enxugou com seu véu branco as lágrimas misericordiosas,
E disse: "Ai de mim! Disso eu não sabia, e então chorei.
Que Deus amava um Verme eu sabia, e punia o perverso pé
Que de propósito ferisse seu corpo indefeso; mas que o nutria
Com leite e óleo eu nunca soube, e então chorei;
E lamentei no doce ar, porque definho,
E deito-me em teu leito frio, e abandono meu destino fulgurante"
"Rainha dos vales’, respondeu a Argila matrona, "ouvi teus suspiros,
E todos os teus queixumes sobre meu teto se agitaram, mas fi-los descer.
Queres, Oh Rainha, adentrar minha casa? A ti é dado entrar
E voltar: nada temas, entra com teus pés de virgem."
IV
O terrível guardião dos portões eternos ergueu a trava do norte:
Thel entrou & viu os segredos do reino desconhecido
Viu os leitos dos mortos, & onde as raízes fibrosas
De cada coração na terra cravam fundo suas irriquietas torceduras:
Um reino de tristezas & de lágrimas onde jamais se sorriu.
Ela percorreu o reino das nuvens na escuridão dos vales, ouvindo
Tormentos & lamentos; esperando, muitas vezes, junto a uma sepultura orvalhada,
Ficou em silêncio, ouvindo as vozes da terra,
Até que a sua sepultura chegou, & ali sentou-se,
E ouviu esta voz de pesar soprada de dentro da cova vazia
"Porque não podemos Ouvidos à própria destruição cerrar-se?
Ou os Olhos brilhantes ao veneno de um sorriso?
Por que estão as Pálpebras providas de setas prontas para o disparo,
Quando há um milhar de guerreiros de tocaia?
Ou Olhos de dons & graças chovendo frutos & moedas de ouro?
Por que a Língua impregnada do mel trazido dos ventos?
Por que os Ouvidos, ferozes sorvedouros para sugar citações?
Por que as Narinas amplas inalando terror, trêmulas, & atemorizadas?
Por que um brando freio no vigoroso jovem ardente?
Por que uma pequena cortina de carne no leito de nosso desejo?"
Sobressaltada, a Virgem ergueu-se de seu assento, & com um grito estridente
Fugiu dali livremente, até entrar nos vales de Har.

Como prometido...
Divrtam-se!

De onde a Chuva Brota...

“Mudanças dos ventos, o cheiro de terra molhada, as nuvens escuras. Chuva. Sim, todos esses são indícios de sua chegada. Há quem gosta dela, que corre enquanto ela cai, rodando e dançando, comemorando sua vinda, ou simplesmente a ignorando. Há outros que não... Que simplesmente se fecham em sua casa, em seu quarto... Esperando com que ela vá embora, e com ela o incômodo.
Cada humano é um eterno ímpar. Cada um será sempre esse um. Talvez com semelhanças entre dois ou mais, mas ainda sim, cada um será um único, um original. E para cada um, um significado diferente para a chuva. Muitas pessoas ligam a chuva à tristeza... O céu escuro, o vento frio, que força uns a procurarem abrigo da água gélida que recai sobre nós. Outras, a ligam com a esperança, o valor do renascimento. O chão que ganha vida, os rios que são alimentados. Vida e beleza para uns, frio e lamentação para outros...
Cada um de nós tem suas próprias tormentas e chuvas. Por vezes, nos vemos isolados um dos outros por imensidões de nuvens negras ameaçadoras. Os lampejos assustadores de fúria, de agonia, e por fim, o vertiginoso mergulhar da fria gota, mistura da tristeza e da lágrima derramada. Porém, nem sempre serão somente turbilhões que atacam nossas mentes, corações e almas. A visão obscura acaba por mergulhar seu possuidor nas sombras. Fim de tudo, da vida, da esperança, da mudança. Então aqui vai meu recado para aqueles que vêem nas nuvens negras da vida o limiar de sua integridade.
As tristezas são tão inevitáveis quanto às chuvas. Todos um dia sentirão ambas, e por diversas vezes. Mas aqui não se retém a essência de nossa existência, nem é nosso destino selado e lacrado. Não... Lembrai que, para cada gota derramada, um tem a sede saciada, uma planta ganha o fluído para que brote mais uma semente, e de cada semente um novo ser, e de cada ser, novas sementes. Lembrai que, para cada nuvem, um jogo de luz diferente é feito, e assim de cada uma vem uma beleza ímpar, como nós. Lembrai que, após cada tormenta e turbilhão de nossa vida, vem a luz, seja o Sol, ou a Lua. Depois da chuva, vem a calmaria, e mesmo que por debaixo das feridas e cicatrizes que são expostas, a Vida ainda se faz e se levanta.
Esperança? Sim. Afinal de contas, do que somos feitos? Seres de esperança. E sim, essa é a visão da qual guardo da vida. Pode ser doloroso, difícil e incômodo, mas até onde vejo, a vida é feita de esperanças, e dos sentimentos que movemos em prol dela, seja a esperança pessoal, seja a de outros. Por maior que sejam as tristezas, as desavenças, as quedas... Por mais que seja sofrida, a Vida ainda está para ser vivida. Porém, nada ainda nos tira o livre arbítrio sobre o ‘até quando ela estará’.
Nessa vida estão as escolhas. Cada um escolhe seu ponto de vista, cada um escolhe seu limite de tristeza ou felicidade. A vida tem sua parte de crenças. A vida é uma amálgama entre ela e as várias outras. Entre a minha, a sua, e a de muitos outros. Aquele que pensa que é apenas um, que não há outro, se engana. A chuva não atinge apenas uma casa, nem apenas um jardim.
Todos nós devemos olhar para os céus que se formam sobre nossas existências, pois é neles que veremos a formação dessa mesma. Somos todos seres, que vivemos uma vida multifacetada, lapidada por nós e outros. De cada céu, brota uma chuva diferente, e cabe a cada um de nós dar o foco a ela, seja de tristeza e solidão, seja de esperança de um céu claro...”

Texto sobre tristeza e esperança... Se vocês acham que o autor tem algo que o incomoda, acertaram... Mas como o texto diz: A vida é de esperanças... Então, até onde eu puder, eu vou...
Comentem sobre o texto... Lembre-se: é criticando que eu vou crescer...

quarta-feira, julho 28, 2004

Gladiadore

Pois é galera... Férias regadas com coisa boa d+... Namorada, amigos, família, e Dicovery Channel...o.O Heheheh!
Bom, inspiração advinda do Filme "Gladiador", estrelando Russel Crowl, e do documentário "Coliseu: A Arena da Morte"... Espero que gostem! Abraços!

“Com certeza você já deve ter ouvido algo sobre nós... Homens de armas, furiosos e mortais, que brandem lâminas e escudos, que repartem e esmagam inimigos apenas para o prazer da multidão e seu imperador. Há bem mais do que luta, metal e sangue na vida de nós, gladiadores... Coisas as quais você pode nunca ter experimentado, mas com certeza entenderá...
Ser um gladiador não é apenas ser alguém capaz de levantar uma espada... Há a necessidade de força, resistência, e determinação... Determinação de ser um vencedor! De ser um sobrevivente na arena... Sabendo que a vida de um homem dentro de uma arena de combate é apenas um fio de seda, todos que escolhem esse caminho o fazem apenas em última situação... E as razões? Simples! Muitos se tornam um de nós por escolha própria: desistiam de sua liberdade, jurando lealdade para o senhor de uma escola de gladiadores, e assim garantindo subsistência, ou o ouro para pagar as suas dívidas ao preço de arriscarem a própria vida. Porém, outros sofrem de mais azar. Esses desafortunados São escravos, sejam por nascimento ou por prisão em guerra ou delito, e são comprados ou simplesmente entregados ao senhor da escola. Sendo assim, uma escola de gladiadores reúne diversos tipos de pessoas, das mais diferentes partes do mundo... Desde os próprios romanos, até celtas, africanos e espanhóis. Para esses, ser um gladiador não é uma questão de escolha própria, pois a questão ou é lutar e se tornar um, ou se tornar novamente um escravo... Ou senão, perder a vida... Seja na arena ou fora dela...
A partir do momento que alguém decide realmente entrar nas arenas e passar a encarar a morte de frente, suas motivações se tornam outras. Pode ser apenas a subsistência, como já dito... Alguns continuam por descrença, pois caindo nesse destino, não conseguem pensar em fazer outra coisa a não ser lutar... Os esperançosos lutam por liberdade... Ah! A tão cobiçada Espada de Madeira, simbolizando o fim da existência daquele que a ganha como gladiador, e também o conferindo a liberdade... Outros, extasiados pelo derramamento de sangue e gritos da multidão, continuam para ganhar fama... Esses últimos sim ganham o ‘renome’ positivo de gladiador, carregando a Folha de Palmeira, simbolizando seu valor e vitória...
As arenas são outro lugar onde se encontram os mais diversos homens do Império... Mendigos, camponeses, e a elite de homens ricos, que se reúnem para o mesmo propósito: a diversão sustentada pela luta. Esses eventos São sempre patrocinados por um homem de posse, e teve em início a intenção de homenagear outros da elite que faleciam. Porém, mais tarde, adquiriu o caráter de diversão ao público, e assim as arenas apresentam o necessário para o entretenimento: banquetes e batalha!
Os de nós que ganham a multidão, e aos patrocinadores, e que antes de tudo, sobrevivem à arena, gozam de tratamento melhor ainda ao que já lhe é oferecido na escola. ‘Como?’ Você pergunta... Bom, lembre-se que os gladiadores de uma escola são, antes de tudo, as fontes de renda do senhor, e sendo assim um gladiador ferido e ma cuidado é apenas um fardo. E ao contrário do que se acredita, a morte era sempre evitada, pois aquele que promove os eventos geralmente paga pelas baixas que uma escola sofre... Porém, as casualidades são inevitáveis, e sempre há um ou outro disposto a pagar o preço por sangue e satisfação própria e da multidão...
Todo gladiador sonha com este lugar pra onde fui trazido hoje...O Coliseu... Aqui, no círculo sagrado de Roma, as lendas são vividas e dramatizadas, e outras nascem a partir dos combates entre os melhores gladiadores de cada escola. Nas arenas do Coliseu, as diversas motivações se embatem, as inúmeras espécies de humanos se colocam no mesmo espaço, sejam lutando lado a lado, seja um contra o outro... E todo esse espetáculo, assistido pelo maior patrocinador, pelo grande Imperador... De posse inimaginável por nós, ele sustenta o desejo por comida e luta de si próprio e da multidão...  No fim de uma batalha, a platéia, unida em um único coro, decide o destino de quem participa do confronto, e o Imperador, com um simples levantar ou abaixar de polegar, faz ação a voz do povo...
Em breve, os portões se abrirão, e dos túneis, sairão mais homens, que repartem comigo o mesmo renome... Conosco, sairão feras, alimentadas com carne humana e treinadas ao combate contra nós, e tudo isso para o êxtase da multidão e seu líder. Para nós, que assiste o banho de sangue, e aguardamos ansiosamente nossa vez, a visão que temos é bem diferente. Não há diversão... Aqui, por um momento, as motivações se tornam uma só... Elas podem ser a Folha de Palmeira, a Espada de Madeira, ou apenas o ouro... Não importa agora... Os portões se abriram, e agora que temos armas na mão, armaduras ao corpo e um elmo colocado, a nossa motivação conjunta é apenas uma: sobreviver...
Sobrevivência... O instinto mais primaz do homem, hoje se torna o alimento da nossa platéia... Daqui alguns sairão vitoriosos, outros não... Mas isso é parte da nossa existência já conhecida... Ouça... Ouviste? É a multidão... Batendo pés e mãos, chamando nosso renome, chamando o que hoje os fará satisfeitos... E nosso dever? É caminhar por esses túneis firmes e de cabeça erguida, rezando por nossa fé e vida, de encontro a um destino que será decidido por nossa espada, e pela própria platéia... Nosso dever é caminhar e entrar na arena como o que somos... Como Gladiadores...”
Tygros - vulgo Victor Luiz

terça-feira, julho 27, 2004

Dragão Negro - Chama de Esperança

“Paz... Quanto tempo eu vinha lutando por isso... Desejando a cada fim de batalha que aquela fosse a última. Que um dia eu pudesse reconstruir aquela vida que um dia me retiraram... Mas os deuses do destino gostam de ironia! Na lutas que eu fazia por justiça, eu ajudava aqueles sobre quem deveria recair a vingança dos inocentes... Meus inimigos...
Mas isso é passado... E assim deve ser. É isso que essa senhorita me diz... Toda vez que me encontra falando comigo mesmo, relembrando fatos. Toda vez que me encontra pensativo... Ela sabe o que sinto, o que penso... Ela não lê mentes, mas ela me entende, lendo cada expressão, cada movimento que faço... Estranho, mas não impossível... E é surpreendente...
Aqui, nessa rústica e remota vila, nas terras de Thalaria, eu reencontrei paz... Por meses, talvez anos, eu não vi mais a espada e a armadura que me acompanharam até ali, e a última vez que meus olhos se pousaram sobre estes objetos, dentro de um pequeno armário na casa da minha acolhedora, poeira e teias já o cobriam...
Minha vida estava, a partir do dia em que me vi curado e capaz de me levantar da cama na qual sofri dias e dias, destinado a viver do mesmo jeito que eu vivi antes de me tornar um general: como um camponês... Vida simples, criando animais, cultivando as plantações e ajudando os outros daquela vila nos serviços onde eu podia. Com o tempo, os olhares de total desconfiança se transformando em olhares confortantes, no mínimo indiferentes... Pode parecer pouco, mas era uma vitória maior do que qualquer uma que consegui nos campos de batalha...
Eu não queria mais do que aquilo... Depois das ações que preencheram meu passado dentro do exército daquela maldita fortaleza, qualquer trabalho honesto e digno era o paraíso. Ainda por vezes, as crianças da vila brincavam ao meu redor, me arrastavam, corriam, e eu acabava participando, fazendo a minha alegria e a delas. Aquela que me acolhera sempre me observava da janela, sorrindo com uma beleza pertencente apenas a ela... Quase divina... Por vezes eu me perguntava se aquela não seria um anjo... Porém, em uma noite, a última na qual passaria na vila, as trevas cobririam parte meu destino, mais uma vez...
Eu estava em uma das janelas da casa, perdido em pensamentos, como era de costume. Eu observava o resto do vilarejo, a noite, as estrelas, os reflexos destas e da Lua no poço e nas janelas das outras casas, as pessoas que ainda recolhiam os frutos e produtos dos trabalhos do dia... E assim aquele anjo novamente se aproximou de mim, tomando a minha e mão e colocando-se a meu lado, observando tudo comigo... Ela não disse nada, apenas se manteve ao meu lado... Talvez uma das maiores demonstrações de carinho e confiança que eu poderia ter recebido, dentre muitas vindas dela.
Eu queria abraçá-la... Dizer a ela tudo o que ela fez por mim... Confessar a ela minha admiração, meus sentimentos... Mas não houve tempo. Assim que nossos olhares se cruzaram, um grito ecoou na vila, e em seguida, sons de batalha, acompanhados pelo chamado às armas. Eu não podia acreditar...
Saltando pela janela, segui os sons, e me deparei com a cena que mais repugnava em minha vida... Sangue... Gritos e gemidos de horror e dor... Agonia... Corpos, dos homens em armas da vila e do inimigo, que qual eu conhecia bem... Malditos! Um dos exércitos da Fortaleza vieram, se não ao meu encalço, simplesmente na sede de pilhar e destruir, e assim adquirir mais um posto avançado para Dargor... Maldição!
Não houve muito tempo para lamentações e pensamentos por minha parte... Logo à minha frente, as crianças as quais se divertiam hoje agora estavam ameaçadas por um dos cavaleiros do exército inimigo. Sem tempo, e conseguindo rapidamente apenas uma das lanças quebradas ao chão, corri em ajuda às crianças, lançando a arma contra o peito cavaleiro, com toda a força que tinha. Ao aproximar delas, um segundo guerreiro já se preparava para desferir sobre mim um golpe...
O tempo entre a ação inimiga e minha reação pareceu uma eternidade... O suor frio cobriu meu rosto, e minha garganta ficou seca. Braços e pernas se paralisaram por um instante. Eu estava aflito... Tudo vinha a se repetir como naquela noite infernal... A tontura, medo, desespero... O grito das crianças e dos guerreiros da vila cortava o silêncio desse intervalo de tempo, e também acordara minha coragem... Eu não podia parar agora... Eu precisava lutar!
Em um movimento rápido e pouco pensado, eu rendi o atacante inescrupuloso, fadando-o a morrer sobre a própria lâmina. Meus olhos pousaram mais uma vez sobre a batalha, e novamente instantes se transformaram em eternidade... Mais uma linha de frente do exército se aproximava, com cavalos e cães de guerra, e a insegurança logo recaia em mim e os outros defensores...Mas já estava decidido. Após abrigar os pequenos, voltei para a casa de qual saí momentos antes, para dar o último passo da minha opção...
Entrando às pressas, logo rumei para o armário onde o armamento que uma vez possuí em mãos estava guardado, e assim que os fitei, novamente os instantes se dobraram... Apesar da poeira e teias, a armadura estava firme, e a lâmina da espada com o mesmo corte da noite em que a desembainhei pela primeira vez. Assim, finalmente percebi que aquele armamento só adquiriu valor e o verdadeiro forjamento a partir do dia em que os deitei... Aquele armamento não era mais do Dragão Negro que lutava por Kelgor, mas sim para o Dragão Negro que havia renascido, e que agora lutava pelo seu coração... Sua esperança...
Rapidamente me vesti, e antes mesmo de terminar, o rosto angelical me fitava. Ela estava parada, e enquanto eu estava de costas à ela, me tocou o ombro... E assim nossos olhos se encontraram, e eu finalmente percebi o que ela sentia, mesmo com o seu silêncio, e ela também sabia o que se passava comigo. Ela não queria me deter, pois havia reconhecido o que me fez obedecer ao chamado às armas. Com um movimento leve, ela me abraçou, e com um beijo, disse as últimas palavras que eu ouviria dela...
- Prometa-me deixar seu passado negro de lado... Sua paz depende disso...
Com outro beijo selei minha promessa, e me apressei até a batalha. Foram momentos negros, mas ainda havia sua luz... Os guerreiros que um dia me condenavam lutavam ao meu lado, e o exército inimigo desdenhava qualquer hipótese de resistência. Porém, eu os conhecia... Sabia seu treinamento, sabia suas táticas... Mas nós, que defendíamos a vila, tínhamos algo mais: o coração... A fé... A esperança compartilhada... Com luta árdua e sofrida, a vitória nos pertenceu, mas não sem as numerosas perdas...
Meu medo nunca desapareceu, mas a partir daquela noite, minha coragem havia mudado... E assim que a vila começou a se recuperar, eu decidi me unir aos exércitos e heróis do resto das terras para enfrentar o lorde negro Dardgor. E decidido, parti em uma manhã simples e bela, como sempre sonhei... Despedi-me silenciosamente de minha amada e daquela vila que carinhosamente chamo de lar...
Dali em diante, eu voltei a ter a fé que havia perdido junto com meus entes queridos... A esperança e determinação à salvar as terras em que vivo, esperança qual tinha queimado junto com meu primeiro lar... Não quero mais vingança. Quero redenção! Quero poder fazer parte do braço armado que salvará os que amo e aqueles que lutam pela vida contra o julgo desse lorde negro...
Que os deuses do destino guiem minha mão e vigiem por aqueles que lutam contra o lorde negro! Que aqueles que morreram defendendo sua terra abençoem os que lutaram e que ainda lutarão! Que os deuses permitam que o Dragão Negro se levante novamente, pois seu vôo e suas chamas não serão mais por vingança... Serão por redenção... Por esperança...”

‘His day will soon come... your reign will fall...
Lost in the sun you'll burn...
Burn to pay for what you've done to us all!"

Black dragon's pride
(Inter fulmina et in tenebris)
Comes from the past
(mihi horror membra percipit)
Black dragon's pride
(Inter fulmina et in tenebris)
Comes from the past
(mihi horror membra percipit)’


Bom senhores e senhoras e senhoritas, desculpe a demora, mas finalmente aqui acaba a série de textos que eu fiz baseado na música Black Dragon do Rhapsody. Espero que agrade a todos! E ressaltando: se alguém tiver uma idéia de tema, ou música que gostaria que ver como tema de um texto, entre em contado comigo! raysontygros@hotmail.com...
Agradeço a paciência e leitura de todos!